Desidério Sargo

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2009

Projecto de Vídeo Instalação (mixed media installation): Zona em desracionalização

Projecto de Vídeo Instalação (mixed media installation): Zona em desracionalização



Vídeo Instalação: Zona em refundação

Vídeo Instalação: Zona em refundação

Aproveitando um espaço em mezzanino, Desidério Sargo constrói uma estrutura que, no piso inferior (Zona em desracionalização), alterna a brutalidade dos blocos de cimento com o calor humano das fotografias que retratam, em tamanho natural, de corpo inteiro e de costas, pessoas deliberadamente diferentes, no seu modo de ser e de vestir. No interior, as mesmas e outras pessoas de frente, nuas, e uma projecção no solo, em grande formato, de rostos que falam de si. Fica assim desvendada a relação entre despir o corpo e despir a alma, qual delas a mais difícil.

No andar superior (Zona em refundação) prolonga-se a construção, com um tapume, aberto apenas num dos lados, onde se lê “Proibida a afixação”, em várias línguas. Uma projecção vídeo mostra pessoas a mudar uma peça de roupa e os visitantes são apanhados pela câmara na partilha desse momento de intimidade. Fundem-se na projecção observadores e observados, o que acontece em tempo real e o que é diferido, impossível dominar a cena sem ser implicado nela.

Por detrás deste trabalho, está uma formação que passou pela Licenciatura em Artes Plásticas-Pintura em 2002 na Universidade da Madeira; as disciplinas de Novas Técnicas, Instalações e Vídeo, entre outras, no âmbito do programa Erasmus na Facultad de Bellas-Artes de Castilla-La Mancha; o estágio (programa Leonardo da Vinci) em Potenza, na Itália, trabalhando em imagem digital e depois em pintura mural e mosaico; um workshop de Iniciação ao Documentário, orientado por Pedro Sena Nunes, na Universidade da Madeira, em 2002. Está ainda a sua participação em exposições desde 1998, com pintura, fotografia, gravura, cerâmica, e o estímulo dos prémios: em 2001 uma menção honrosa na Estemporanea di Pittura interregionale “Premio Carlo Levi” e 1º Prémio “Henrique e Francisco Franco” do Concurso Regional de Artes Plásticas da Madeira, Centro das Artes/Casa das Mudas em 2003 e em 2007.

Os seus trabalhos in situ, têm vindo a ensaiar sempre, mas de diversos modos, dispositivos de observação. Em 2000, nas instalações da Universidade da Madeira, no vão entre quatro andares, rodeado de uma sucessão de varandins, ergueu enormes colunas de rede metálica com pássaros. Tornava-se evidente neste UMa-Um Movimento Artístico, o incómodo da presença de seres que voam e cantam, num espaço panóptico, contíguo às salas de aula, por salientar o lado concentracionário da arquitectura e questionar a noção de liberdade.

No passo seguinte, Sou ≠ d i f e r e n t e, (2002, Universidade da Madeira) o outro, o observado, era “o próximo”, materializado nas personagens fotografadas de frente, em tamanho natural, vestidas e despidas. O preconceito em torno do nu, ampliado pelo carácter indicial da fotografia, pelo convívio lado a lado com o quotidiano do espaço de trabalho, resultava numa interpeladora incomodidade. Completava a instalação um espaço definido a blocos, onde eram projectados depoimentos de várias pessoas sobre si próprias.

23 espelhos (2003, Casa das Mudas) reorganiza as mesmas e outras personagens em círculo, jogando com os espelhos e com a projecção dos depoimentos, numa interrogação sobre a identidade, a imagem e a auto-imagem, a pessoa e a persona.

Sorria, está a ser filmado!, (2007, Casa das Mudas) complexificava o dispositivo e os modos de confronto e interacção com o outro, através do uso do vídeo em tempo real. Os espectadores podiam assim contracenar com as diversas personagens que estavam a mudar de roupa ou ficar, mais passivamente, a ver.

Encontramos, pois, ao longo destes ensaios, constantes que passam pela ideia de construção pessoal, corroborada pelo uso de blocos, de vedações, inerentes à incompletude; pela estruturante relação com o outro; pelo desnudar-se, de corpo e de alma; pela actualização do passado conseguida através da coexistência do tempo real com o diferido.

Isabel Santa Clara

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Behind this work is a training for a degree in Fine Arts, in 2002 at the University of Madeira; the disciplines of New Techniques, Equipment and Video, among others, under the Erasmus Program at Facultad de Bellas Artes de Castilla-La Mancha; the internship (Leonardo da Vinci) in Potenza, Italy; working on digital image and then mural and mosaic painting; a workshop on Documentary Introduction, directed by Pedro Sena Nunes, Madeira University, 2002. Also, the participation in exhibitions since 1998, with painting, photography, printmaking, ceramics, and the incentive of awards: in 2001, an honorable mention in Estemporanea di Pittura Interregional "Premio Carlo Levi" and a prize "Henrique and Francisco Franco", Madeira Regional Arts Contest, in the Arts Center of Calheta / Casa das Mudas in 2003 and 2007.

His work, in situ, has always essayed, from many ways, observation devices. In 2000, in the premises of the University of Madeira, within the span of four floors, surrounded by a succession of balconies, he raised enormous columns of a metal mesh with birds. It became evident, in this UMa-An Artistic Movement, the discomfort caused by the presence of flying and singing beings in a panoptic space, adjacent to classrooms, by highlighting the concentration aspect of this architecture and to question the notion of freedom.

In the next step, I AM ≠ different, (2002, University of Madeira) the other, the observed, was "the next person", embodied in characters photographed from the front in size, dressed and undressed. Prejudice around nakedness, amplified by the indexical nature of photography, living side by side in the everyday working space, resulted in questioned inconvenience. Completing the installation, a space defined by blocks, where were projected testimonies from several people about themselves.

23 mirrors (2003, Casa das Mudas) rearranges the previous characters and others in a circle, playing with mirrors and with the projection of statements, a question about the identity, image and self-image, the person and the persona.

Smile, you are being filmed!, (2007, Casa das Mudas) complexifies the device and methods of confrontation and interaction with others, through the use of real time recording. Viewers were thus able to interact with the various characters who were changing clothes or, stayed more passive, just watching.

We find, therefore, during these trials, constants that go through the idea of personal growth, supported by the use of blocks, fencing, inherent to its incompleteness; by the structuring relationship to others; by stripping naked your body and soul; and by updating the past, through the coexistence of real-time with the deferred.

The search for a specific place and the search for identity, relate to the self image issue and self concept; and what we think about ourselves is conditioned by the idea of what we think others have of us. The human as an animal (being) all-purpose dependent of contexts, images, times, contacts, knowledge and life experiences, seeking to "inhabit (himself)" the space he occupies but needs to break its irreducible individuality to try to communicate with each other. In this ambivalent moment, between what he shows and hides from himself, to play and dance the being, to show, to hide, to change, to accept, to wish / desire, to represent, ..., hall of mirrors, fragments, images projected that have no reality in themselves but because they just are and because they are projections. See yourself in and from the other, enjoying an esthetic emotion, an emotional state, mental and / or physical.

Man is not a thing. It is a person under construction. We only become individuals through our relationship with others - also people. A person has also substantial nature, opposed to its appearance. The man as a person is not the appearance, the character. Person, from the Latin persona, connecting in turn to the Greek prosopon, means that an actor with a mask covers his face, assuming a role for others, wearing a character. This dressing of the character ends up being a form of catharsis, the exorcise of those aspects that may cause worry, anxiety, upset, sadness and fear. The Man as person is a customization process, always on going and always unfinished. A game between the essence versus appearance. The being, the self and the representation, be another even in our background opacity.

The ambiguity of the private becomes public, an intimacy revealed, shared and displayed. The other as my mirror and loyal confidant.

What do I look like?

What is my essence?

What am I?


Personagens " Sou # "

Personagens " Sou # "

2007

2007

Projecto de Vídeo Instalação (mixed media installation)

Sorria! Está a ser filmado!

Num espaço delimitado por blocos de cimento, numa construção inacabada, coabitam 2 vídeos, 2 realidades. A frieza das paredes de blocos é rompida por um cortinado preto onde o fruidor é captado por uma câmara de vídeo, integrando o projecto e por uma parede branca onde são projectados 2 vídeos. No interior um aviso: Sorria! Está a ser filmado!, e um cabide com algumas peças de roupa que o visitante poderá usar durante a visita. Ao entrar na zona onde está o cabide o fruidor é captado por uma câmara de vídeo que projecta a sua imagem na tela ao fundo. No outro vídeo, várias personagens surgem e mudam uma peça de roupa partilhando com ele uma intimidade que habitualmente não partilharia.

A procura de um lugar próprio e procura de identidade prendem-se com a questão da auto imagem, do auto conceito e a ideia que fazemos de nós é condicionada pela ideia que achamos que os outros fazem de nós. O ser humano como animal (ser) multifacetado dependente de contextos, imagens, épocas, contactos, vivências e experiências, procura “habitar (se)” no espaço que ocupa mas necessita de sair da sua irredutível individualidade para tentar a comunicação com o outro. Neste momento ambivalente entre o que mostra de si e o que esconde, jogam e dançam o ser, o mostrar, o esconder, o mudar, o aceitar, o querer/desejar, o representar, …, jogo de espelhos, de fragmentos, imagens projectadas que não têm realidade em si, mas existem apenas e porque são projecções. Ver-se no e pelo outro, fruir uma emoção estética, um estado emocional, mental e/ou físico.


O Homem não é uma coisa. É uma pessoa em construção. Só nos tornamos pessoas através da nossa relação com os outros – também pessoas. A pessoa tem, também, carácter substancial por oposição à aparência. O homem como pessoa não é a aparência, a personagem. Pessoa, do latim persona, ligando-se por sua vez ao grego prosopon, que significa máscara com que o actor cobre a cara, assumindo um papel para os outros, vestindo uma personagem. Este vestir a personagem acaba por ser uma forma de catarsis, de exorcizar aspectos que possam preocupar, causar ansiedade, transtornar, entristecer e amedrontar. O homem como pessoa é um processo de personalização, processo contínuo e sempre inacabado. Um jogo entre a essência versus aparência. O ser, o parecer e o representar, ser o outro e o mesmo no nosso fundo de opacidade.


A ambiguidade do privado que se torna público, uma intimidade revelada, mostrada e partilhada. O outro como meu espelho e fiel confidente.

O que é que eu aparento?

Qual é a minha essência?

O que é que eu sou?

Foi pedido a várias personagens que se representassem a si próprias, mudando uma peça de roupa.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Pintura landscape





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